sábado, 9 de maio de 2009

...dia das mães....

A verdade é que a gente não faz filhos. Só faz o layout. Eles mesmos fazem a arte-final.

Luís Fernando Veríssimo

A Janela dos Outros Martha Medeiros

Gosto dos livros de ficção do psiquiatra Irvin Yalom (Quando Nietzsche
Chorou, A Cura de Schopenhauer) e por isso acabei comprando também seu Os
Desafios da Terapia, em que ele discute alguns relacionamentos padrões entre
terapeuta e paciente, dando exemplos reais. Eu devo ter sido psicanalista em
outra encarnação, tanto o assunto me fascina.

Ainda no início do livro, ele conta a história de uma paciente que tinha um
relacionamento difícil com o pai. Quase nunca conversavam, mas surgiu a
oportunidade de viajarem juntos de carro e ela imaginou que seria um bom
momento para se aproximarem. Durante o trajeto, o pai, que estava na
direção, comentou sobre a sujeira e degradação de um córrego que acompanhava
a estrada. A garota olhou para o córrego a seu lado e viu águas límpidas, um
cenário de Walt Disney. E teve a certeza de que ela e o pai realmente não
tinham a mesma visão da vida. Seguiram a viagem sem trocar mais palavra.

Muitos anos depois, esta mulher fez a mesma viagem, pela mesma estrada,
desta vez com uma amiga. Estando agora ao volante, ela surpreendeu-se: do
lado esquerdo, o córrego era realmente feio e poluído, como seu pai havia
descrito, ao contrário do belo córrego que ficava do lado direito da pista.
E uma tristeza profunda se abateu sobre ela por não ter levado em
consideração o então comentário de seu pai, que a esta altura já havia
falecido.

Parece uma parábola, mas acontece todo dia: a gente só tem olhos para o que
mostra a nossa janela, nunca a janela do outro. O que a gente vê é o que
vale, não importa que alguém bem perto esteja vendo algo diferente.

A mesma estrada, para uns, é infinita, e para outros, curta. Para uns, o
pedágio sai caro; para outros, não pesa no bolso. Boa parte dos brasileiros
acredita que o país está melhorando, enquanto que a outra perdeu totalmente
a esperança. Alguns celebram a tecnologia como um fator evolutivo da
sociedade, outros lamentam que as relações humanas estejam tão frias. Uns
enxergam nossa cultura estagnada, outros aplaudem a crescente diversidade.
Cada um gruda o nariz na sua janela, na sua própria paisagem.

Eu costumo dar uma espiada no ângulo de visão do vizinho. Me deixa menos
enclausurada nos meus próprios pontos de vista, mas, em contrapartida, me
tira a certeza de tudo. Dependendo de onde se esteja posicionado, a razão
pode estar do nosso lado, mas a perderemos assim que trocarmos de lugar. Só
possuindo uma visão de 360 graus para nos declararmos sábios..
E a sabedoria
recomenda que falemos menos, que batamos menos o martelo e que sejamos menos
enfáticos, pois todos estão certos e todos estão errados em algum aspecto da
análise. É o triunfo da dúvida.


Quero agradecer a Agnés q me enviou este texto....
Obrigada...vc é incrível!